quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Edição_Manual1_17

O Habitus noticioso e a circulação de notícias

O que vai virar notícia tem implicações importantes, como a “pasteurização” de pautas e a perda de diversidade das notícias, a chamada “escolhas sem sujeito”, frase cravada por Pierre Bordieu no livro Sobre a Televisão. Na base de tentativas e erros, os jornalistas acabam filtrando os padrões de conduta editorial.

Com a pressão do prazo-limite e da periodicidade, as redações acabam por desenvolver métodos de antecipação de procedimentos e a conseqüente redução de esforços. Segundo Clóvis de Barros Filho, em Habitus e Pauta Jornalística, esses procedimentos dispensam cálculo estratégico antes de serem utilizados, sendo aplicados no “piloto automático”, pois estão incorporados num processo de socialização profissional.

De que maneira as seqüências da realidade, constatadas pelo observador, dispensam cálculo, permitem antecipações, geram reações? De acordo com Barros Filho, casos idênticos acabam por ser absorvidos na falta de singularidade. Resultado: o “faro jornalístico” acaba perdendo a capacidade de reflexão e ganha um aspecto empírico, ou, como se diz na gíria, “ir pelo tato”.

Outro costume é noticiar algo (em nome do “interesse público”) só porque a concorrência o faz (quando justamente o Jornalismo preza pelo diferencial). Na prática, os veículos se copiam mutuamente. Os jornais estão cada vez mais parecidos, especialmente com os demais veículos, cada vez mais rápidos.

Dessa forma, os filtros, os costumes, os consensos e tradições acabam construindo carapaças que nada mais servem do que para alavancar muitas carreiras profissionais. É a máscara que se torna mais verdadeira do que o próprio rosto.

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