quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Edição_Manual1_19

Conflitos da Ética

Quando a ética envolve vidas, os conflitos são mais polêmicos e profundos. O livro Guia para a Edição Jornalística, de Luiz Costa Pereira Junior, cita três casos extremos:

1. O trabalho infantil em uma fábrica numa cidade do Interior deve ser denunciado, mas se a denúncia causa o fechamento da fábrica, única fonte de renda da cidade e das famílias dessas crianças, o que fazer?
2. Um cientista está a um passo de conseguir descobrir a cura da Aids, mas só vai conseguir se usar bebês como cobaias humanas e conseqüentemente, matá-los. Que vidas são mais valiosas, as dos bebês ou as dos soropositivos?
3. Um repórter não pode mentir ou roubar. Mas se ele só tiver esses meios para conseguir uma informação que ajudará milhões de pessoas?

Que respostas devem ser as corretas nos três casos?

Pereira Júnior ainda cita o caso do fotógrafo Kevin Carter, que tornou-se famoso mundialmente ao fotografar no Sudão, uma criança que estava, literalmente, morrendo de fome e enquanto agonizava, um urubu estava pronto para dar o bote tão logo o menino morresse. A foto rendeu a ele o Prêmio Pulitzer de 1993. No entanto, Carter pagou um preço ao ser cobrado por nada ter feito pelo menino. Houve quem alegasse que ele estava no trabalho dele e não havia a obrigação de se envolver com a notícia. No final de tudo, o fotógrafo se matou, aos 33 anos, e deixou uma carta arrependida sobre a foto.

A forma como descrevemos um problema vai definir a posição que temos diante dele. Argumentos e fatores que selecionamos e priorizamos nos dizem para que lado vamos. Isso requer uma apuração própria, de reflexão e pesquisa. Na raiz da defesa universal de um princípio ético, estaria um esforço de investimentos de argumentos universais.

Em casos de conflitos éticos, o melhor procedimento para um jornalista será o que diante de conflitos éticos desafiadores, o profissional parar pra pensar nos que podem ser afetados por essas notícias, como se fossem pessoas próximas a nós. Isso humaniza o profissional e pode ajudar a cristalizar convicções.

No Jornalismo, a questão dos riscos sempre é um desafio para quem luta contra o tempo e sempre se vê em dilemas. Por isso, é preciso aprender com os casos anteriores, para que se estabeleçam conclusões que nos poupem a margem de erro e acabar com a arrogância de quem se considera seguro de si.

Antes de ser jornalista, a pessoa deve ser humana. Isso é fato. Isso é ética.

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